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(a neve vista aqui da janela)

(eddie e eu no espelho)

(primeira árvore de natal na frente de notre dame, quase um mês atrás)

(dentro do tgv, toulouse-paris, 300 km/h)

(trafalgar square, londres, inverno 2009)

os franceses tem uma palavra linda para descrever machucados: blessures. blessés são os feridos. a neve cai em flocos de tamanhos variados, dependendo da sua intensidade. é sempre possível escorregar e cair de bunda se você resolver fazer um jogging em cima da neve, se ela não for muito espessa. quando faz menos sete graus a gente sente bastante frio, mesmo bem agasalhado, mas é legal. eles têm muitos temperos que eu nunca havia provado aqui. tem um que imita wasabi e é 67% wasabi puro e é melhor que wasabi de verdade, e olha que eu sou louca pelo wasabi.

o inverno de verdade dá muito sono. é bom ter novos e velhos amigos. melhor ainda é ter um amor. eu sinto muita falta do meu sig, porque sei que nit e páris estão bem. eu penso no sig aqui e tenho muita vontade de chorar. no mais, tudo se desdobra como sonho & verdade. estou quase conseguindo viver em francês. tenho medo mas tenho esperança. tenho saudade mas tenho curiosidade. tenho ternura mas desenvolvo dureza. tenho força, sempre. sinto-me selvagem mas sinto-me exponencial e bela também. aprendo em milhagem contínua. ensino também.

a primeira vez que vi neve na vida foi no dia 14 de dezembro de 2009. eu estava em toulouse e foi a virginie quem veio correndo me mostrar. olhei e parecia que uma caspa fininha caía do céu. saí para a rua para levar duas buldogues francesas para passear e fiquei encantada com meus cabelos congelados. nenhuma cachorra conseguiu fazer xixi de tão frio que estava.

os trens na frança são muito rápidos, 300 km/h, andei em dois, um tgv e um eurostar. passei por debaixo do canal da mancha dentro de um. tentei ficar acordada que nem criança em reveillon pra ver a hora em que eu estava debaixo da água, mas confesso que não entendi muito bem. e é só uma hora e meia de viagem.

os franceses falam francês igualzinho nos filmes franceses, as mesmas expressões.  🙂

hoje revi uma amiga, a biti, que vai estrear uma peça sobre op tchecov na suíça e em moscou, que eu vou assistir na estréia na suíça. reencontrar a biti depois de três meses foi muito especial, ela que re-chegou aqui em paris quase junto comigo. uma sensação do tempo passando e de coisas sendo feitas. merda, biti!

as crianças e os cachorros são (quase) iguais em todos os países. chauffage é um procedimento muito novo para mim. não confundir com chômage, que significa desemprego. a língua francesa é muito linda. já não queimo mais a mão quando esqueço de desligar a água quente primeiro, na pia, na hora de lavar os pratos. no hemisfério norte, em paris, estamos mais obliquamente inclinados em relação à lua e ao sol, e eu vejo este satélite e esta estrela maiores do que no hemisfério sul. ainda não tenho vontade de escrever literatura, mas um toicinho de cosquinha começa a brincar nos meus dedos, no teclado.

acompanho todas as notícias do brasil e tenho muito orgulho de ser brasileira, um orgulho nada ufanista, mas delicado, um orgulho de filha. conheço pessoas interessantes nos trens. penso que tomei as decisões corretas. (sig, me espere, vou fazer você feliz também, refreque-se, aguarde). sou apaixonada por uma buldogue francesa que se chama eddie e que é uma pessoa inteira vestida de cadela. já combinei com ela algumas coisas que ela vai ter que ensinar, com sua sabedoria de menina, para o sig.

ainda não revisitei os monumentos históricos, mas conheci outros. todo dia descubro uma coisa diferente. já chorei algumas vezes por aqui, mas já ri muito mais do que chorei. cabelo cresce igual em qualquer lugar do mundo, viu. mas depilação é um assalto aqui. paris é deslumbrante, não tem jeito (muito mais que barcelona). londres me re-seduziu também. já cruzei a frança umas seis vezes. em janeiro vou conhecer a suíça. tenho amigos que apostam em mim por aqui, como no brasil.

já dirigi carro, bebi uns 12 tipos de vinho, uns seis tipos de champagne, aprendi a comprar legumes e a reconhecer uma carne bem cortada. engordei em toulouse quase tudo que emagreci em paris. toulouse é a cidade da longevidade, dos gametas, dos cometas, do rugby, da véro e do concorde, uma potência. assisti umas seis vezes um filme feminista porno punk maravilhoso que ainda nem foi lançado. li dois livros em espanhol. estou terminando um terceiro em francês, minha maior façanha. tem uma amiga minha que mora em londres que gravou um vídeo em grego para mim. perdi a última aula de francês de 2009, porque estava trabalhando. a europa é dura e vive em guerra desde a idade média. o brasil é muito mais doce. mas a europa é linda e cheia de coisas a mostrar, detalhes muito ricos, coisa de gente velha e poderosa.

minha idade biológica muda durante o dia de acordo com minha atividade. vou de 4 a 57 anos em dois segundos, e olha que eu tenho 36. lembro da astróloga cármica em belo horizonte que disse que eu ia começar a viver minha vida depois dos 35, que antes era tudo ensaio. mas que ensaio danado de rico e de bom, mesmo com todas as tristezas, obrigada. tá ótimo aqui no palco, viu, não quero sair mais não. tão cedo não.

os franceses tem uma expressão que diz “laisse tomber la neige” (deixa a neve cair), quando não há mais nada a fazer sobre alguma coisa. véronique, que é uma ótima contadora de histórias, me disse que esta expressão ilustra metaforicamente o sentimento da neve, que, quando cai, abafa o som. não a nada a ser feito. silêncio.

digitar em teclado francês é doentio e antidemocrático. os franceses adoram reclamar, e eu acho isso legal. mas eles também sabem apreciar, e, quando apreciam, falam muito também. aqui não se diz oui, mas “ué”, é a gíria. aqui “tiens” significa “toma”. soutien não é soutien de segurar peito, é apoio. apoio político, inclusive. você pode, por exemplo, dar um soutien para um candidato, e nem vai ser preso por isso.

aqui na frança já comi umas oitocentas ostras. mariscos o tempo todo, na espanha também. tô aprendendo a comer comida macrobiótica também. aqui tem uma lance que os franceses adoram que é a “qualité” francesa, são obcecados pelas coisas france-made. um orgulho danado. os franceses ficam desolados quando uma tempestade derruba árvores na floresta, é quase um luto. e, outro dia, passando por uma estrada ao lado de uma floresta, a véronique desviou o carro para que eu pudesse ver de perto uns “guis”, aquela erva que o panoramix corta dependurado no alto da árvore pra fazer a poção mágica dos gauleses.

um amigo francês me convidou para assistir o show da sapho num lugar lindo aqui em paris. para os franceses, convidar significar pagar tudo. depois fomos todos ver “avatar”  em 3D no maior cinema de paris, o grand rex. quando saí do cinema tava menos dez graus. fomos andando pra casa e eu nem congelei.

aqui, a neve caindo durante a nossa volta.

olha o frio

(familia rosa reunida pra assistir o match de rugby franca X nova zelandia, na casa do jerome querido, com jantarzinho e MUITO vinho de varias regioes da franca)

quem nunca viveu num pais com invernos mais rigorosos do que o seu nao imagina o que sejam coisas como acordar sem luz do sol, ligar o aquecedor interno da casa, quebrar o leiometro do aquecedor como forma de protesto pra nao pagar mais, vestir um grosso manteau de peles falsas pra ir na padaria (ops, perdao, boulangerie) da esquina.

paris esfria. o humor das pessoas realmente muda. a mudanca climatica eh de fato uma grande novidade pra quem viveu 36 anos em eternos veroes completos. os franceses dao risada e me dizem que eu ainda nao vi nada, que o pior ainda esta por vir. eu, pessoalmente, to louca pra ver neve. eles me acham maluca. talvez eu seja mesmo.

continuo a descobrir este pais tao particular, dono de uma retorica tao rica e, paradoxalmente, de uma opacidade de comunicacao (uma nao-clareza, obrigada, didier) tao potente. eles falam muito, falam muito bonito, mas dizem muito pouco. uma lingua para filosofos e poetas.

minha compreensao do frances avanca. ja vejo filme e assisto o noticiario, entendendo quase tudo. foda eh a lingua desenrolar de vez e eu fazer o biquinho pra pronunciar direito o frances sem antes raciocinar em ingles, minha tabua de salvacao neste pais de gauleses orgulhosos.

depois de amanha, vou percorrer as entranhas deste pais de novo, em direcao a toulouse onde minha querida eddie sera operada. na volta para meu curso de frances, pego um TGV, um trem rapidissimo, pela primeira vez na vida. primeira classe, madam, que tava barato. e na sequencia pego um eurostar debaixo do canal da mancha pra londres, pra renovar o carimbo no passaporte e ganhar mais tres meses aqui neste gelo. (vanessa, meus chas!!!)

sigo agora na expectativa de receber meu primeiro conto traduzido em frances para estabelecer novos contatos profissionais. novos desafios vao se abrir para mim, eu que a partir do final de dezembro comeco a morar numa casa no 20eme arrondissement, enquanto espero a vero descolar um ape maior e melhor, pela mairie de paris. aproveitarei pra atacar mais o velib e continuar neste estranho e  bem-vindo processo de emagrecimento que vem acontecendo comigo desde que cheguei aqui.

como, bebo horrores, e emagreco. muito. que maravilha. pode ser o frio. pode ser a emocao com o novo futuro. pode ser a sensacao de liberdade. pode ser o fato de amar. pode ser a distancia de neuroses antigas. pode ser o rompimento com a terra-mater. pode ser o processo de individuacao que deriva disso tudo, que me poe em risco, mas tambem me deixa muito bem. colocar-se em risco as vezes faz bem.

vi o primeiro jogo de rugby da minha vida, pela tv, na casa do jerome, com toda a familia rosa reunida (faltando soh o serge e a querida virginie). achei bonito, chic, fashion, muito sexy e extremamente gay, aquele monte de homem gostoso se pegando muito. nao entendi nadica de nada das regras, mas torci muito pela franca.

🙂

e tive medo da danca ritual aborigene que os jogadores da nova zelandia fazem antes de comecar o match. credo.

vi um dos melhores show da minha vida num bar-galpao no norte de paris – a lydia lunch. amo. minha idola, como amo. encontrei la com a virginie, a beatriz, foi tudo uma delicia. no dia seguinte a vero finalizou seu trabalho com o novo filme da virginie (mutantes: feminismo e post-porno punk). almocamos num japones todo mundo (inclusive eddie et pepa, as bouledougas francesas mais lindas do mundo), rimos muito.aguardem. a lydia ta la no filme.

eh de gritar.

e a virginie botou meu nome nos creditos finais, como agradecimento. pelo que, deus meu? fiquei tao orgulhosa que nem consegui falar.

e essa historia maluca da vida da gente, que a gente vai fazendo, vai vivendo, vai propondo, vai sofrendo, vai inventando… e o frio…

bom, o frio a gente aguenta.

paris, enfim

depois de um outubro inacreditável entre barcelona e paris, parece que estou pela primeira vez chegando na capital da frança, esta moça linda, sedutora e caríssima. começo a me sentir parisienne, pela primeira vez.

junto com esta sensação, vem também uma melhora radical no meu torpe francês. meu ouvido começa a ficar treinadíssimo, apesar deu ainda me sentir tremendamente tímida na hora de falar. o curso na mairie de paris colabora totalmente para esta melhora.

paris me trouxe também um novo querido amigo, didier, irmão da véro. um desses caras que chegam pra ficar na vida da gente. veio da califórnia, onde morou durante 08 anos com seu namorado, para descolar uns trampos em paris e algum dinheiro. didier sente comigo este início de inverno e me ajuda a melhorar o francês. ele, que fala perfeitamente o português, em todos os tempos verbais, conjugações e preposições.

essa família rosa que ama o brasil e fala português, viu…

os frutos do intenso contato afetivo com artistas incríveis em barcelona continua a render seus frutos aqui em paris. fora isso, continuo conhecendo mais e mais gente. e me surpreendendo, muito.

uma tradutora-top, que é professora e chefe de departamento na sorbonne, amou meus livros e vai traduzir de graça três contos que ela escolheu. começo a rodar algumas pequenas (e grandes, vai saber) engrenagens aqui em paris.

fora isso, uma saudade e uma preocupação imensas com meu sig. penso em trazê-lo. vamos ver.

for isso também, começo uma série de colaborações de texto para artistas plásticos brasileiros. uma nova rodinha que começa a girar e a trazer mais movimento, mais dinâmica.

a vida da gente é engraçada. e boa.

o concorde, que véro, didier, serge e todos os toulousianos AMAM ALUCINADAMENTE

didier et eloy em barcelona, meus novos amigos

dia das crianças no brasil, eu ganho presentes aqui em barcelona, em minha segunda visita a este sítio frenético. aleluia, uau. virginie despentes, a escritora e diretora francesa mais traduzida em todo o mundo, me dá de presente o maravilhoso “devenir perra” da sensacional itziar ziga. beatriz diz que vai me presentear com um dos seus. dei de presente pra beatriz o “rútilo nada”, da hilda hilst, em francês, editado pela caractères. nem acredito, quase devorei totalmente o “perra” em duas horas de barceloneta. véro está editando o novo filme da virginie, aqui em barcelona. a directrice da caractères (da rue muffetard) me convidou pruma soirée de poesia no quartier latin.

tudo é um grande encontro? uma grande coincidência? como foi mesmo que cheguei aqui? a vida pode ser um presente?

sim, pode. sair à noite hosteada pela tekla e conhecer as ramblas turcas, e as pequenas ruas sujas e marginais de barcelona. ir ao bar onde se reúnem as performers sexuais mais incríveis do planeta. ver a véro e a virginie trabalhando, almoçar com performers. brincar com eddie pelas largas calçadas de barcelona. fazer amor durante horas. iku. transgender. post-porn. post-op.

o que será o futuro?

voltar a paris para as próximas aulas de francês desejando imensamente saber falar todas as línguas.

barcelona selvagem, si us plau.

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rambla, da janela do ônibus

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praça da catalunya (onde chego do aeroporto)

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língua doida dos infernos (a virginie me relata que o catalao é muitas vezes usado como forma de seleçao “cultural”  em barcelona e outros lugares, porque muito excludente – quem fala é incluído, quem nao fala nao tem acesso a certos lugares de poder, como cargos publicos, catedras etc)

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domingao em barceloneta – to ficando especialista em topless – montao de gente pelada, velhos, jovens, semivelhos, semijovens, magros, gordos, semimagros, semigordos, meias idades, carecas, gays, straights, transgenders, europeus, latinos, cucarachos, familias.

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barceloneta, jovenes

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rambla, esperando o ônibus

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j´adore

outras imagens…

eolica

energia eólica bombando em todas as estradas francesas…

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véro debate com o garçon do nosso restaurante de cassoulet, no país cátaro, sobre a melhor maneira de chegar a barcelona… mon dieu, estes franceses adoram conversar entre si!!!!!! sobre mapas e comidas e rugby!

cassouletcidade

país cátaro

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monumento aos mortos pela frança, la grasse

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a lindíssima toulouse

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virginie, praça do capitólio, toulouse

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a cozinha da virginie em toulouse

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toulouse

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toulouse, pátio interno da abadia dos jacobines

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um dia ainda terei um quintal assim: le jardin du georges durand, la grasse

cows

vaquinhas da raça “limousine” na estrada… porque aqui limousine é marca de vaca!

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depois de comer um cassoulet a gente fica assim…

sorbonne

la sorbonne, vista da minha escola

toneis

produção artesanal de vinho na cave du georges durand

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no dia 29 de setembro, a véro me buscou de táxi na minha escola de francês pra me levar no show da emiliana torrini, no olympia. foi a primeira vez que andei de táxi em paris, um luxo impensável pra quem ganha em reais e gasta em euros. mas, ouso dizer, foi lindo: um carrão deslizando pelos boulevards chiques de paris até o olympia, pra ver um show ótimo, eu me senti a própria catherine deneuve.

mentira, não dá tempo de se sentir catherine deneuve. é tanta coisa acontecendo junto e rapidamente que a gente parece um cometa explodindo em outra língua.

karine_alice_vero

karine, alice e véro, na porta do olympia: amigas de 20 anos…

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eu fazendo a linha “fina-fetiche-consumista” com meu blackberry no foyer do olympia de paris…

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esperando pra começar o show, pessoas chegando no olympia. a gente colou no gargarejo, véro e eu, as “crianças” da turma. karine e alice ficaram um pouco mais pra trás.

emiliana

emiliana e sua banda agradecem no final…

lopera

a gente sai do show, vai andando um pouquinho e dá de cara com o que? essa beleza resplandescente toda, o l’opera de paris… alice me disse que a melhor hora pra dar de cara com o l’opera é de manhã, quando o sol incide sobre o brilho arquitetônico das pontas desta coisa e parece que o mundo é um jantar de 800 talheres luís quinze.

resto

aqui o restô chique do lado do l’opera onde a gente foi tomar um drink depois do show.

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dia 29 na porta da escola, na rua victor-cousin: esperando com os outros candidatos/alunos a prova de francês, pra decidir em que nível entrar. tem chamadinha na porta e tudo o mais.

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fachada da escola: o curso de francês é dado pela prefeitura de paris e o preço é muito abaixo, apesar dos professores serem da sorbonne. muitos estrangeiros na minha sala: japoneses, ucranianos, israelenses, húngaros, chineses, filipinos, mexicanos, australianos, irlandeses.

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pátio interno da escola. é uma escola de crianças, elementar, durante o dia…

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interior da escola. as salas de aula são subindo a escadaria. a minha fica no terceiro andar, uns seis lances de escada – é por isso que a francesada mantém a forma, apesar do tanto de vinho e queijo, já descobri tudo.

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minha primeira aula de francês, agora, no dia 06 de outubro, com a professora fabienne, uma geminiana animada. adoro, os colegas parecem ótimos. tanta gente de tanto país diferente girando o mundo e se encontrando em paris pruma classe de francês. tantas profissões diferentes: pedreiro, designer de cor da pegeuot, engenheiro, advogada, esteticista, dona-de-casa, agente de segurança, enfermeira, economista, professora de judô, pesquisadora na área de biologia, professora de história, jornalista, escritora…

notredame

foto que fiz ontem, dia 06, voltando da minha primeira aula de francês. é notredame, nossa dama, que badala pra mim seus sinos de nove horas da noite, quando volto pra casa a pé, em paris.

amigos, escrevo de barcelona, onde cheguei há pouco dirigindo o peugeot da véro, com ela do lado, dormindo num sol de sete da tarde, bem europeu e louco. chegamos numa barcelona frenetic, pelas ramblas. pessoas quentes atravessando a rua, o mercadinho hype, as ramblas, as igrejas, as lojas, com seus ipods, sacolas, bengalas, cachorros, um bronzeado de gringo nas nucas brancas, um calorrrrrr, uma alegria, uma surpresa…

loucuras. o mínimo que posso falar. daqui há pouco coloco (montes de) fotos, porque a maioria ficou presa no meu blackberry novo de neo-galega deslumbrete, que esqueceu o código-pin em paris.

vou ficar indo e vindo paris-barcelona durante o mês de outubro, porque a véro vai trabalhar daqui.

mas, va bien, em menos de 4 dias, eu:

1 – fiz um teste na minha nova escola de francês da prefeitura de paris, na rua victor-cousin, EM FRENTE a sorbonne, e a professora disse que meu frances já é bom, e que vai me botar no nivel dois, e a escola eh fofinha de linda, eh de crianças de dia, e de adultos de noite, e no meu caminho eu passo toda terça e quinta por notre dame, que me saúda misticamente com a ave-maria de seus sinos toda seis da tarde, e eu agradeço… e eu penso na ave-maria que eu costumava escutar quando era criança no quintal da casa da minha avó, em belo horizonte, dos sinos que vinham da igreja do carmo… a mesma ave-maria. eu mando beijos para minha avó, em paris.  (finalizei também um texto que escrevi com a minha querida laura para a bienal do mercosul e uma newsletter para uma empresa)

2 – assisti, a convite da minha querida véro, a genial cantora e compositora emiliana torrini no olympia de paris, uma casa onde já se apresentaram os maiores mestres da musica do mundo. o show foi incrível,  ela é uma graça e muito intensa, milhares de fotos e vídeos que eu mostro depois… (incrível como a gente pode receber músicas de amor a 10 mil quilômetros de distância e depois, em menos de dois meses, ver ao vivo a cantora, em paris. incrível do que a toda a gente é capaz).

3 – tomei um drink com karine e alice et vero num restaurante chiquérrimo do lado do l’opera.  juro que eu moraria dentro do banheiro daquele lugar.

4 – entrevistei em inglês o franceseeeeérrrrimo lighting design louis clair, pra revista que eu colaboro, meu primeiro apontamento profissional em paris.

5 – cruzei todo o sul da frança de carro, conheci o massivo central, fui saudada pelo pôr do sol de um lado, e pela lua cheia de outro, vi cervos selvagens nos antigos bosques do rei.

6 – aprendi porque as uvas desenvolvem sabores diferentes dependendo dos lugares onde crescem

7 – dirigi um peugeot na fronteira entre frança e espanha, cruzando os pirineus sobre uma estradinha curva e estreita de noite, vendo do alto dos pirineus a lua cheia jogando um brilho incrível sobre o mediterrâneo, essa imensa baía sedutora do capeta…

8 – vi um castelo do seculo 11 absolutamente impecável em carcassonne, onde um lorde de 24 anos se rebelou contra a sanha dos templários e protegeu os cátaros do massacre iminente, pagando com sua vida por isso… fiquei sabendo bastante sobre os cátaros, mais do que eu já sabia. vou conhecer o monte onde todos eles tiveram suas cabeças cortadas pelos templários.

9 – comi o primeiro cassoulet da minha vida, em frente ao canal de midi

10 – vi um treinamento da legiao estrangeira!

11 – pernoitei em portbou, onde walter benjamin se suicidou com morfina, em 26 de setembro de 1940, por medo de ser alcançado pelos nazistas… portbou é lindíssima, eu vou passar um tempo lá, com certeza, antes que os franceses descubram aquela beleza toda. eu vou sentir benjamin em portbou, ah se vou.

12 – visitei o memorial de benjamin sobre as rochas, projetando-se sobre o mar, com minha namorada, e pensei que a vida precisa ser intensamente vivida, e que eu preciso ser mais entregue

13 – emocionei-me  quando deixei a última cidade de frança, ao volante,  e vi a fronteira da espanha, um check point bobíssimo, que nem tem guarda…

14 – fiz o primeiro topless da minha vida adulta numa praia espanhola cheia de areia negra e água azul cristalina. um velhinho produtor de vinho em la grasse se apaixonou por mim (com minhas pernas de “jogadora de rugby”, hehe) e pediu a minha mao pra véro… missier georges durand, old school total…

15 – comi um loup de mer e uma sangria num restaurante sobre o mar e as pedras

16 – dirigi até barcelona, onde nos perdemos e nos encontramos

17 – subi cinco andares de escadas com as bagagens

18 – saí pra jantar com a véro com duas das maiores artistas-intelectuais da frança e da espanha, em barcelona (véro vai editar o filme de uma delas) e elas pagaram a conta.

19 – conversei com beatriz preciado sobre livros e peformance e achei que a vida pode ser incrivelmente feliz como a gente sonhou no nosso próprio conto de fadas. fiquei tensíssima quando a virginie despentes perguntou por que que eu gostei do filme dela, e nem consegui responder, fiquei gaguejando em inglês, bem idiota e horrível.

(daqui a pouco eu volto, com fotos)

por enquanto, c’est çaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

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